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Smart Drugs NÃO melhoram desempenho

14/09/2023

Meu caro amigo da Inspirali, você usa psicoestimulantes sem ter diagnóstico de TDAH buscando melhorar seu desempenho no curso de Medicina? Ouviu falar que estas tais “smart drugs” vão de fato melhorar seu desempenho na faculdade? Acha que a maioria dos seus colegas de outras faculdades estão usando e que se você não usar vai ficar para trás? Adicionalmente, os comprimidos, conhecidos como “smart drugs”, que prometem impulsionar a mente, têm sido cada vez mais adotados por indivíduos que não têm transtornos psiquiátricos, como o TDAH (onde de fato essas medicações podem ser extremamente efetivas e mudar para melhor a vida dos pacientes que as utilizam, junto com intervenções não farmacológicas). Um estudo sobre o uso dessas substâncias por inúmeras pessoas ao redor do mundo indica um aumento notável. Em 2017, 14% das pessoas tomaram esses medicamentos pelo menos uma vez no ano anterior, em comparação com 5% em 2015. Nos EUA, essa porcentagem alcança 30% da população. Assista ao documentário “Take your pills”, da Netflix, que você vai ter uma boa ideia do que eu estou falando…

Pois é, é melhor você repensar isso agora mesmo e ajudar seus colegas que podem estar nesse barco furado!

Estamos cientes de várias práticas diárias que, comprovadamente, podem potencializar a inteligência e o desempenho do nosso cérebro. Refiro-me a exercícios regulares, uma boa noite de sono, alimentação equilibrada, constante aprendizado e o tratamento dos transtornos psiquiátricos que possam estar em atividade.

Drogas apelidadas de “smart drugs” ganham cada vez mais adeptos, não só no mercado financeiro e no mundo dos “concurseiros”, mas, principalmente, entre estudantes de Medicina, pelo acesso facilitado à prescrição médica com colegas. Elas são usadas por supostamente aumentarem a inteligência, mas pesquisas desmentem seus efeitos há décadas. Só que agora a coisa fica ainda mais clara; além de não melhorar, será que elas PIORAM a qualidade do seu desempenho? Opa, aí a coisa complica ainda mais, não é mesmo?

Como psiquiatra clínico, que atende pacientes diariamente, estou acostumado a explicar o custo-benefício de cada uma das intervenções (farmacológicas ou não farmacológicas) para os meus pacientes. E já começo com um argumento contundente: se fosse bom, eu estaria usando, não é mesmo? Afinal, facilidade na prescrição não me falta. Mas por que, afinal?

O artigo publicado em 14 de junho de 2023, da Elizabeth Bowman et al., intitulado Not so smart? “Smart” drugs increase the level but decrease the quality of cognitive – effort.Sci. Adv.9, eadd4165 (2023). DOI:10.1126/sciadv.add4165 –, traz argumentos extremamente interessantes que foram incorporados ao meu discurso. Mas não escute minhas palavras. Em entrevista concedida à Scientific American e publicada há alguns anos na revista Mente & Cérebro, o Prêmio Nobel Eric Kandel, um dos neurocientistas mais renomados do planeta e, certamente, um dos pesquisadores que mais contribuíram para o nosso atual entendimento da memória, declara: “Ainda não temos evidências de segurança e nem mesmo de eficácia do uso de medicações para melhorar o cérebro de pessoas saudáveis. Eu não aconselharia meus netos, pelo menos por enquanto, a usar essas medicações”.

Pois é, isso porque o professor Kandel nem leu este novo paper quando fez esse comentário. Mas, afinal, do que se trata este artigo?

Usando o problema chamado “knapsack” (problema da mochila), que visa a otimização da mochila como uma representação estilizada da dificuldade em tarefas encontradas na vida diária, o grupo da professora Elizabeth Bowman mostrou que o metilfenidato (sal presente na Ritalina, Ritalina LA e Concerta), a dextroanfetamina (metabólito ativo do Venvanse) e o modafinil (sal presente no Stavigile) fazem com que o valor da mochila obtido na tarefa diminua significativamente em comparação ao placebo. O esforço (tempo de decisão e número de passos para encontrar uma solução) aumenta significativamente, mas a produtividade (qualidade do esforço) diminui significativamente. Ao mesmo tempo, as diferenças de produtividade entre os participantes diminuem, e até se invertem, na medida em que os executores acima da média terminam abaixo da média e vice-versa. O último pode ser atribuído ao aumento da aleatoriedade das estratégias de solução. Essas descobertas sugerem que as “smart drugs” aumentam a motivação, mas ocorre uma redução na qualidade do esforço, crucial para resolver problemas complexos.

Ou seja, mais do que não ajudar, elas podem atrapalhar. Quer saber mais detalhes sobre este paper? Assista ao vídeo que produzimos aqui na Inspirali pensando diretamente em você, querendo te ajudar a estar por dentro da medicina baseada em evidências, cuidando da sua saúde física e, principalmente, mental.

Um grande abraço!

 

Luiz Dieckmann

@dr_luizdieckmann

Bipp.care – Projeto Angatu

Médico Psiquiatra – Embaixador da Psiquiatria e Saúde Mental da Inspirali

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