Déficit de memória, desorientação ou distúrbios perceptivos. Atenção! Estes podem ser sinais de delirium, que se manifesta especialmente em idosos. Trata-se de uma síndrome neuropsiquiátrica aguda decorrente de uma patologia orgânica subjacente (ou velada). Entretanto, apesar de ser altamente prevalente e servir de alerta para um distúrbio em evolução, o delirium pode passar despercebido. O que é grave.
Por que o delirium merece atenção?
Um artigo específico publicado na Biblioteca Virtual de Saúde (BVS), garante que, apesar de ser potencialmente reversível, o delirium é indicativo de um pior prognóstico e está associado a maiores taxas de morbimortalidade e internações mais prolongadas. O transtorno ocorre entre 10 e 45% dos pacientes internados em hospitais gerais, sobretudo idosos, após procedimentos invasivos. Ainda ocorre em Unidades de Tratamento Intensivo (UTIs), onde a prevalência chega a 81% na vigência de ventilação mecânica.
Quais são os principais sinais do delirium?
Conforme o conteúdo, o delirium é um distúrbio frequente em emergências e internações clínicas, apresentando-se tipicamente como:
– Pensamento incoerente;
– Desatenção;
– Desorientação.
O que pode provocar delirium?
De forma geral, qualquer situação que possa interferir no funcionamento do sistema nervoso central pode provocar delirium.
Em idosos, as causas mais comuns são:
– Infecções sistêmicas;
– Medicações;
– Desordens metabólicas;
– Acidentes Vasculares Encefálicos (AVEs).
Mas o delirium também pode ocorrer em jovens, tendo como principais motivos:
– O abuso de álcool e drogas;
– A abstinência alcoólica.
O que o delirium pode indicar?
Frequentemente, o delirium é a principal ou única manifestação de infecção nos idosos. As pneumonias e as infecções do trato urinário – tanto baixas, quanto altas – devem ser sempre consideradas nos quadros de alteração do estado mental nesta faixa etária.
Dentre os distúrbios metabólicos e hidroeletrolíticos (quando o indivíduo perde quantidade significativa de líquidos corporais e de eletrólitos), merecem especial atenção:
– A hiponatremia (condição de baixo nível de sódio no sangue);
– A desidratação;
– A hipoglicemia (quando os níveis de açúcar no sangue estão abaixo do normal);
– A uremia (elevação de ureia no sangue);
– A insuficiência hepática.
O que pode desencadear o delirium?
A introdução e a suspensão de medicações, como diuréticos, são responsáveis por até 40% dos casos de delirium. Qualquer fármaco pode desencadear um quadro confusional; destacam-se, contudo, as drogas com efeito anticolinérgico (que bloqueiam o efeito do neurotransmissor), como:
– Atropina;
– Anti-histamínicos;
– Antieméticos;
– Antipsicóticos;
– Antidepressivos (principalmente tricíclicos);
– E as substâncias dopaminérgicas, tais como os antiparkinsonianos, os sedativos/hipnóticos e os corticoesteroides.
Como tratar um paciente com delirium?
Ainda de acordo com o material publicado na BVS, o manejo do estado confusional baseia-se, principalmente, no tratamento da patologia de base; entretanto, medidas gerais estão indicadas em todo quadro de delirium, pois condições ambientais podem exacerbá-lo.
O tratamento farmacológico é um recurso para a recuperação do paciente?
Sim. Em determinadas ocasiões, o tratamento farmacológico do delirium também é preconizado. Todavia, sempre na menor dose possível e pelo mínimo tempo necessário. Os antipsicóticos são os fármacos de primeira linha, sendo o haloperidol a droga de escolha por possuir poucos efeitos sedativos, embora atualmente muitos antipsicóticos atípicos também estejam sendo usados.
De forma prática, é possível contribuir com a melhora do indivíduo com delirium?
Segundo o artigo, podem ajudar na melhora do paciente com delirium:
– Subsídios para a orientação do paciente, como calendários e janelas;
– Estímulo sensorial em nível adequado, como luz discreta acesa no quarto à noite;
– A presença de poucos familiares junto ao indivíduo;
– Evitar mudanças no ambiente;
– Restabelecer a nutrição e a hidratação do paciente.
O que diz a Biblioteca Nacional de Medicina sobre o delirium?
Conforme outra publicação sobre o tema, que integra a “National Library of Medicine” (ou Biblioteca Nacional de Medicina), o delirium é definido pelos critérios da quinta edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5) como uma mudança aguda na atenção e na consciência, que se desenvolve em um intervalo de tempo relativamente curto. O delirium também pode ser denominado como “estado confusional agudo”, “encefalopatia tóxica ou metabólica” ou “insuficiência cerebral aguda”.
O que mais deve ser levado em consideração em relação ao tratamento do delirium?
Segundo o material, além de tratar o problema fisiológico subjacente, outras intervenções devem ser consideradas para o manejo do paciente com delirium, tais como:
– A correção de possíveis distúrbios eletrolíticos;
– A remoção de agentes farmacológicos desencadeantes;
– A manutenção de ciclos adequados de sono/vigília;
– O controle da dor;
– A abordagem de deficiências sensoriais (como audição e visão);
– O incentivo a visitas familiares e reorientação frequente;
– A mobilização precoce (para que o indivíduo permaneça menos tempo na UTI, por exemplo).
Como memorizar as boas práticas relacionadas à avaliação e prevenção do delirium?
Para que seja possível memorizar essas boas práticas foi criado um esquema que utiliza as letras iniciais do alfabeto, para avaliar e prevenir o delirium:
A = Avaliar, prevenir e controlar a dor;
B = Testes de respiração espontânea e de despertar espontâneo;
C = Escolha de sedação e analgesia;
D = Delirium: avaliar, prevenir e gerenciar;
E = Mobilidade precoce e exercício;
F = Engajamento e empoderamento da família.
O que deve ser incorporado à rotina das emergências para identificar rapidamente o delirium?
De acordo com outro estudo, publicado no Jornal Brasileiro de Psiquiatria e disponível na Scielo Brasil, a identificação desse transtorno é fundamental na rotina de emergência dos hospitais, onde são atendidos pacientes com múltiplas doenças crônicas, pois o delirium é comumente subdiagnosticado, levando a um aumento nas taxas de morbimortalidade.
Por fim, o reconhecimento do distúrbio, um ato puramente clínico, baseado na observação do paciente e na valorização dos dados fornecidos pela família, deve ser realizado sistematicamente em pacientes nesse contexto, de modo a aumentar o diagnóstico de um quadro mórbido com importantes implicações prognósticas.
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