Especialista da Inspirali fala sobre como atendimentos focados em aliviar sofrimentos físicos e emocionais são essenciais para bem-estar de pacientes
O Brasil deu um passo importante no tratamento de pacientes com doenças graves ao oficializar a Política Nacional de Cuidados Paliativos (PNCP) no Sistema Único de Saúde (SUS). Estabelecida há pouco mais de um ano, a medida estabelece diretrizes para a oferta das práticas, que vão além do controle da dor e colocam o bem-estar do paciente e da família no centro da atenção. Em 2025, outro marco desse movimento foi a inauguração, na Bahia, do primeiro hospital público especializado no tema, o Hospital Estadual Mont Serrat. Mas, nacionalmente, o acesso ainda é restrito e é fundamental ampliar o entendimento sobre o conceito de saúde, incluindo o cuidado integral e a importância dos cuidados paliativos.
Santa Catarina está entre os estados que já solicitaram a habilitação dos serviços previstos na política, e mantém há um ano o Ambulatório Multidisciplinar de Cuidados Paliativos, em São José. Apesar do avanço, o cuidado paliativo ainda precisa ser compreendido em sua essência. E o desafio, como explica a professora Chaiana Esmeraldino Mendes Marcon, docente dos cursos de Enfermagem e de Medicina da UniSul/Inspirali, é cultural. “Ainda há uma visão de que cuidado paliativo é só para quem está morrendo. Isso é um mito. Ele pode, e deve, começar no diagnóstico de qualquer doença grave, com o objetivo de garantir conforto e qualidade de vida, não de abreviar o tempo de vida”, afirma.
Um cuidado que começa cedo
O cuidado paliativo não substitui o tratamento da doença, mas é complementar. Atua no alívio do sofrimento físico, mas também no suporte emocional, social e espiritual — não só do paciente, mas também da família. “Cuidar é ouvir o que importa para aquele paciente, respeitar sua dignidade e suas escolhas”, diz Chaiana. Ela destaca que doenças cardíacas, respiratórias, neurológicas, renais e outras condições crônicas também demandam esse tipo de atenção, não apenas o câncer, como muitos ainda pensam.
A política nacional também reforça a necessidade de preparar profissionais para lidar com esse tipo de cuidado. A professora destaca que o papel da enfermagem é fundamental. “A escuta ativa, a empatia, o trabalho em equipe e o respeito à autonomia do paciente são pilares do cuidado paliativo. Isso exige não apenas técnica, mas presença humana e ética”, explica.
Além de tratar sintomas físicos, a atuação das equipes deve considerar o sofrimento emocional e o contexto familiar. Quando o cuidado paliativo é negligenciado, o impacto é amplo, resultando em sofrimento prolongado, procedimentos invasivos desnecessários, desgaste emocional da família e até aumento de custos para o sistema de saúde. “Sem esse cuidado, o luto também se torna mais difícil. E isso afeta todos os envolvidos”, afirma Chaiana.